Operação contra lavagem de dinheiro do tráfico de drogas cumpre mandados em 4 estados e justiça determina bloqueio R$ 2,2 bilhões
14/11/2024
Ação do Ministério Público do Rio Grande do Norte e da Receita Federal mira grupo ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Operação Argento mira grupo suspeito de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas
MPRN/Divulgação
Uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) e pela Receita Federal cumpriu 36 mandados em quatro estados do país, nesta quinta-feira (14), contra a lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC). A Justiça determinou o bloqueio de R$ 2,2 bilhões.
Segundo o MPRN, o grupo é suspeito de lavar dinheiro do tráfico com a abertura de empresas de fachada e postos de combustíveis, compra e venda de imóveis de luxo e cavalos de raça.
A operação Argento é desdobramento da operação Plata, realizada em fevereiro de 2023. Na ação desta quinta (14), foram cumpridos sete mandados de prisão preventiva e outros 29 de busca e apreensão nas cidades de Natal, Caicó, Parnamirim e Nísia Floresta e ainda municípios de outros três Estados: São Paulo e Campinas (SP); Vitória da Conquista e Urandi (BA); e Trairão (PA)
Um homem foragido da operação Plata foi preso nesta quinta, em Caicó. Também foram apreendidos dinheiro, joias, aparelhos de telefonia celular e computadores.
Operação é conduzida pelo MPRN e pela Receita Federal
MPRN/Divulgação
Investigação
Segundo o que já foi apurado nas investigações, o cabeça do esquema de lavagem de dinheiro é Valdeci Alves dos Santos, que também é conhecido pelos apelidos de Pintado, Vermelho, Prateado, Colorido ou Tio, que é do Rio Grande do Norte.
Valdeci era considerado um dos chefes do PCC nas ruas. Ele está preso no Sistema Penitenciário Federal desde abril de 2022.
Segundo os promotores, mesmo detido, o homem mantinhas seus negócios ilegais, com auxílio de pessoas de confiança, e chegava a mandar mensagens decodificadas por meio de advogados e familiares que os visitavam. Os encontros são gravados.
Esses novos atores – parentes e comparsas de confiança de Valdeci – estariam divididos em grupos, com diferentes responsabilidades na movimentação e ocultação do dinheiro, segundo os investigadores.
Segundo o MP, o dinheiro obtido com o tráfico de entorpecentes entra no sistema financeiro através de “laranjas”, grande parte em depósitos em espécie. A partir de então, ocorre uma intensa movimentação financeira em contas bancárias de pessoas e empresas, segundo os investigadores, para dificultar o rastreio.
"Por fim, os valores chegam ao grupo responsável pela construção, reforma e comercialização de imóveis de luxo, abertura de empresas de fachada, construtoras, imobiliárias, postos de combustíveis, aquisição de cavalos de raça, entre outras atividades, completando assim o ciclo de lavagem de ativos", informou o MP.
Dinheiro apreendido durante cumprimento de mandados da Operação Argento
MPRN/Divulgação
De acordo com o MP, o novo esquema de lavagem de dinheiro desbaratado na operação Argento apresenta funções específicas de seus membros, evidenciando uma organização criminosa estruturada. Diante do que foi apurado, o MPRN já obteve a ordem judicial para o bloqueio de R$ 2,2 bilhões e a indisponibilidade de bens de 101 pessoas.
Ao todo, antes de deflagrar a operação Argento, o MPRN analisou 468 contas bancárias nas quais foram movimentados R$ 1,6 bilhão entre 2014 e 2024.
Para os investigadores, a divisão de tarefas entre os membros da organização, que incluía familiares e terceiros utilizados como intermediários, reforça a estrutura do grupo:
Depositantes: parte dos envolvidos é formada por pessoas de baixo perfil socioeconômico, que têm a missão de enviar grandes somas em espécie para pessoas ligadas a Valdeci. Segundo os investigadores, mais de R$ 40 milhões foram despositados em espécie.
Operadores: Outro núcleo tem a função de criar empresas de fachada destinadas à triangulação e à ocultação da origem e da propriedade dos valores. Os responsáveis são do Pará e, segundo o MP, já têm envolvimento conhecido na lavagem de dinheiro de outros esquemas pelo país.
Familiares: Um terceiro grupo é composto por amigos e parentes de Valdeci que auxiliaram na movimentação de valores por meio de suas contas bancárias e arregimentação de terceiros.
Italiano: Liderado por um italiano que mora no Brasil, o grupo é responsável por construção e comercialização de imóveis em condomínios de luxo, principalmente de Natal e Parnamirim, com os recursos do esquema. "Casas nos melhores condomínios do Rio Grande do Norte", diz o promotor Mariano Lauria, do Gaeco.
O material apreendido será analisado pelo MPRN, que busca identificar outros crimes e o envolvimento de outras pessoas.
Operação Plata
Deflagrada em 14 de fevereiro do ano passado, a operação Plata cumpriu sete mandados de prisão e outros 43 de busca e apreensão nos Estados do Rio Grande do Norte, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Paraíba, e ainda no Distrito Federal.
As investigações que culminaram na deflagração da operação foram iniciadas em 2019, com o objetivo de apurar o tráfico de drogas e associação para o tráfico de drogas, além do crime de lavagem de dinheiro. O esquema era liderado por Valdeci Alves dos Santos.
No Rio Grande do Norte, Valdeci tinha como braço-direito um irmão dele, Geraldo dos Santos Filho, também já condenado pela Justiça por tráfico de drogas. Pastor Júnior, como é conhecido, foi preso em 2019 no Estado de São Paulo com documento falso. Geraldo estava cumprindo a pena em regime semiaberto.
Em setembro, a Justiça condenou sete pessoas na Operação Plata. Geraldo dos Santos Filho recebeu a maior condenação: 84 anos de reclusão pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa. Valdeci Alves dos Santos recebeu pena de 17 anos, três meses e 20 dias de reclusão.
Além dos irmãos, também foram condenados: Gilvan Juvenal da Silva (23 anos e oito meses de reclusão), Thais Cristina de Araújo Soares (19 anos de reclusão), Lucenildo Santos De Araújo (13 anos e seis meses de reclusão), Joaquim Neto dos Santos (12 anos e oito meses de reclusão), e Roberto dos Santos (13 anos de reclusão).
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